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John Voese

A verdade sobre a nostalgia apresenta um recorte da produção de Renato Gosling sobre o imaginário de um Brasil possível. Com grande referência na pop art, Renato se apropria de objetos promovendo um deslocamento poético onde evoca tanto memórias afetivas, de infância, da escola, da casa, enquanto propõe uma reflexão crítica sobre a nostalgia.

Na série Giz, o artista explora a materialidade de um objeto ainda muito presente na educação brasileira. Conhecido como “giz de lousa”, ou mesmo “giz de professor”, o material riscante hoje feito em grande parte de gesso, mas que já foi de giz natural e remonta ao uso do calcário por romanos e egípcios, é mais do que uma tecnologia que remete ao ensino.

 

O Giz é um símbolo de algo que facilita a comunicação entre iguais e mais ainda entre distintas civilizações. Se quisermos ir ainda mais longe, o ato de se riscar em paredes pode chegar às primeiras comunidades humanas. No entanto, nas obras de Renato o giz se torna superfície, contradizendo seu uso comum. O que riscava passa a ser textura, cor e volume. Nos quadros é possível notar a influência do minimalismo, do abstracionismo geométrico, todavia são nas pequenas imperfeições não premeditadas que o material ganha vida.

Renato incorpora essa “briga”, mantendo os resquícios de cor quando colados e arrancados, ou nas curvas que se insinuam devido à falsa impressão de que produtos industrializados são idênticos. Aqui cabe uma reflexão sobre o paradigma da filosofia da diferença.Além da série giz a mostra traz duas três obras da série com os fósforos, dois objetos de chão Gude e Peões, que junto com os Skates nos possibilitam uma reflexão sobre a brincadeira. Por que paramos de brincar? Também um retrato em serigrafia, Mamãe Passou açucar em mim, onde vemos o ícone Wilson Simonal. Pensar em repensar as figuras que compõem a identidade brasileira é parte do conteúdo chave do trabalho de Renato e desta exposição.

Toda a mostra caminha na ambiguidade, para deslocar o espectador dos lugares confortáveis de sua memória, identificando-os de modo nostálgico e se aproveitando disso para que sejam feitas reflexões sobre o que há de ilusório nessas lembranças. Seria assim o passado algo tão bonito? E em se tratando de cotidiano, o presente está sendo belo? Ou se tornará belo apenas quando passar ao terreno da memória? Qual é, afinal de contas, a verdade sobre a nostalgia?

 

Jhon Erik Voese

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