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Adágio / Aforismo, Gabriel Babolim

Renato Gosling busca nas insignificâncias do cotidiano e do prosaico remontar aspectos relativos à crendices, costumes e jargões populares de certo passado-presente de culturas brasileiras. Passado-presente pois remontam ou rememoram estes traços marcados por uma temporalidade, ressaltado em um gesto, uma frase ou uma memorabília específica de certo espaço-tempo, mas que ainda habitam o imaginário comum e fazem parte da experiência do ser-humano-brasileiro.

Muitos dos aspectos que circundam suas produções dizem respeito à esse movimento de resgate, de buscar no mundano e no histórico os elementos que compõem as topografias de uma população multicultural e cheia de aforismos. Neste movimento o artista deflagra aspectos que alinham-se ao surrealismo, no sentido sur-real em que situa a condição do objeto não a um mundo fantástico, mas a uma realidade elevada, intrínseca ao pensamento, uma espécie de hiper realidade, em que une-se o mundo natural, das coisas palpáveis e o mundo cultural, sensível.

Valendo-se da fatura quase industrial em suas produções, o artista ergue um construto que subverte as características denotativas dos objetos representados por meio de alterações nos significados dos signos. Essas alterações são estabelecidas em singelas ordenações, configurações entre elementos incompatíveis e alterações de perspectiva, em escala.

O arrojo empregado em suas obras evidentemente eleva o caráter do gesto-objeto representado, contudo Renato parece ter um olhar muito atencioso para essas minúncias que são elegidas à tornarem-se objetos artísticos, e que por vezes atuam como fator de dissolução de fronteiras erguidas entre as populações. Ressalto aqui os versos de “Tratado geral das grandezas do ínfimo”, de Manoel de Barros que substanciam esse olhar:

“Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro / Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas) / Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil / Fiquei emocionado / Sou fraco para elogio”

Gabriel Babolim - Curador

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