Made In Brazil é Nóis, Caru Albuquerque
O que faz algo se tornar tipicamente brasileiro Como nos relacionamos com marcas que há décadas estão em nossas vidas diárias¿ Em sua primeira individual, intitulada “Made in Brazil É Nóis”, o artista Renato Gosling trabalha com ícones tipicamente brasileiros, reinventando produtos e fazeres que nos relacionamos diariamente e formam nossa noção de brasilidade. “A ideia foi se apropriar de ícones que estão no cotidiano de pessoas de qualquer classe social e modifícá-los”, diz Gosling.
Assim, materiais como grãos, pedras e flores foram usados na releitura de logos, brincadeiras, objetos e até da floresta Amazônica, que foi recriada com brócolis e musgo e geléias. Apresentada em dípito fotográfico, uma das partes da obra “Amazônia” exibe uma imagem que achamos ser uma floresta e a outra revela a verdade ao mostrar a montagem num caixa de papelão.
Outros registros de assemblages em fotografia são a embalagem da famosa paçoca Amor da marca Sing’s, recriada com pedras formando “Love Songs”, e a Nossa Senhora de Nazaré, feita com pétalas de rosas, ervilhas e açaí em pó.
Para a vestimenta da santa, as pétalas foram congeladas para possibilitar que fossem despedaçadas sem murchar.
O artista também alterou formas, contexto, tamanho, cor e uso dos ícones, como os copos americanos, por exemplo, que se transformam em um jogo da velha. A caixa de fósforos – que “tornou-se brasileira” ao ser apropriada pelo samba como instrumento musical – aparece super-dimensionada e forrada com espelhos dourados. “A noção de brasilidade começou a ser formada somente no Modernismo, quando artistas daqui se juntaram para pensar em nas características culturais e estéticas deste território e reafirmá-las em suas obras”, diz Caru.
Também em tamanho gigante estão 8 palitos de fósforos com cabeças de metal de diferentes cores. Cada fósforo recebeu uma expressão idiomática como “Lembrança de Pagar o Pato” e “Lembrança de soltar a franga”, numa referência à fita do Nosso Senhor do Bonfim. “A alegria, as crendices populares, a espiritualidade, irreverência e a capacidade de rir na desgraça podem ser vistas nesta obra”, afirma a curadora.